Texto que achei na cmi brasil, e achei foda... E precisava postar aqui.
PUNKS VENHAM LUTAR!
Por Punk Navalha 05/07/2007 às 03:07
O título deste artigo começa por revelar num som dos Ratos de porão (periferia 82, um ótimo material clássico do punk Brasil 80)um certo anseio do meio punk, de forma mais coerente ou não, mais confusa ou não ,mais sistematizada ou não, de inserir os jovens do proletariado numa luta.
PUNKS VENHAM LUTAR!
[Breve reflexão sobre o meio ?
anarco?
punk no Brasil]
O título deste artigo começa por revelar num som dos Ratos de porão (periferia 82, um
ótimo material clássico do
punk Brasil 80)um certo anseio do meio
punk, de forma mais coerente ou não, mais confusa ou não ,mais
sistematizada ou não, de inserir os jovens do
proletariado numa luta. Essa intencionalidade, no entanto, deu margem a uma grande confusão quanto a natureza, a
característica, desta luta.
É conhecida a existência de uma organização
ganguista na juventude urbana, se leve em conta aqui em particular a de São Paulo, e de como após a metade da década de oitenta o chamado ?movimento?
punk entra em declínio com as guerras de
gangs. Coloco este fato aqui para
refletir sobre o tipo de orientação que esta luta mencionada acima tomava: uma luta
fracionista, quer dizer, que divide,
fraciona,
setores da mesma classe. Seria toda essa juventude oriunda da mesma condição a de serem
despossuídos de meios de produção e por isso sujeitos a exploração... Esta batalha dentro do meio proletário ganhou visibilidade crítica com a letra ?Guerreiros suburbanos? da banda
Kaos 64:
?Não, não, não é fácil não
sobreviver nesse mundo
de corrupção
com tanto gente nadando em grana
sugada da classe suburbana
CLASSE SUBURBANA
Enquanto isso a classe suburbana
se
destrói nas ruas
e ainda vão em cana.
Explorados, desorientados,
vão se
acabanado se transformando
em guerreiros suburbanos
GUERREIROS SUBURBANOS?
A letra é interessante justamente por identificar uma realidade onde uma classe, a ?classe suburbana? que combina um corte de classe com uma identidade comunitária dos bairros operários, é explorada por ricos e onde a juventude ?perdida e desorientada? se perde em lutas internas. Assim se observa a configuração de um guerreiro suburbano, seu destino é a guerra com seu próprio igual, aquele que na prática está na mesma condição de
despossuído, e seu fim é ir ?se acabando?. Desta forma, a música é uma narrativa real do que aconteceu e acontece no meio urbano: aqueles que poderia ser ?lutadores
classistas? se tornam ?guerreiros suburbanos? onde a guerra é um
objetivo em si mesma, mesmo que seja travada contra o seus próprios iguais.
Constatada o que chamei aqui de ?luta
fracionista?, levando em conta uma interpretação possível desta letra, pode ser dito que o chamado ?movimento
anarco punk? surgido em fins da década de oitenta no Brasil tentava apontar para uma associação distinta e um outro tipo de luta, esta ligada à classe trabalhadora. Pode ser observada uma busca a ?valores libertários? que tentavam estabelecer certa crítica, necessária em vários termos, a preconceitos como o
sexismo, homofobia etc. A questão
fracionista reaparece se levarmos em conta produções que se destacaram neste nicho
punk, como Execradores no já clássico disco ?Cenas
anarco punks vol.1? e no velho petardo em k7 denominado ?Ideologicamente perigosos?, organizado pelo
Coletivo altruísta, na música
?Por que morrer??:
?
Gangues por todos os lados Pela ordem do Estado Jovens contra jovens e não contra
Regionalistas idiotas O Estado a sorrir /seus irmãos?
O anarquismo deturpado Por que morrer? Brigas no movimento
Só vejo gente morta Por que morrer? 2X Não sabemos como agir
O sistema é culpado Lute e sobreviva Liberte-se destas
ganguesCom isto ele só ganha Lute e sobreviva Parte para a
açãoUsa jovens como soldados Sua luta é contra o Estado
O tema da violência divisionista aparece novamente acompanhado de uma uma
direção classista: o verdadeiro inimigo seria o Estado. Esta letra tem um conteúdo de classe por perceber o monopólio da violência no exército e o papel que cumpre a luta
fracionista na classe trabalhadora: a divide para impedir o verdadeiro combate contra o Estado, este a serviço da classe dominante. Assim, o irmãos tem outra tarefa que não a de se atacar
digladiar em
gangues, esta letra tem um recado
emancipatório que mesmo que precário, como toda boa e simples música
punk, consegue deixar claro seu
objetivo.
Ao que parece até aqui o ?
Anarco-
punk? dá um novo conteúdo ao
punk no Brasil por enfatizar esta politização, o que não significa que esta não existisse na produções
punks anteriores conscientemente ou não ( podemos dar aqui centenas de músicas do
punk Brasil 80' com um conteúdo claramente político e
classista). Mas, o novo aqui colocado é uma
direção classista que estabelece crítica a elementos internos ao próprio meio
punk como o
ganguismo já mencionado, machismo homofobia etc. Como já dizia a banda Execradores em sua música ?Igualdade?: ?Homens e mulheres, seremos todos iguais?.
A influência
classista não termina por aí possuindo também com letras de clara exaltação da figura do operário, do trabalhador, como gerador de toda a riqueza do mundo. Uma clara tentativa de refazer a identidade e a auto-estima dos
setores explorados:
?Grande, bravo e destemido Trabalha sempre trabalha Vamos levantar nossas cabeças
Tens força e fervor Não existe recompensa Fazer valer o nosso esforço
Pilar de toda a comunidade Só míseros trocados Expulsar totalmente os patrões
Quem reconhece seu valor? Oh! maldita, maldita diferença. E tomar conta do que é nosso.?
[Incentivo aos operários, retirado também do K7
split ?ideologicamente perigosos?]
Essa identificação imediata com o
proletariado, mesmo que não seja expressa nestes termos, chegava a ter
lampejos revolucionários de ruptura com o sistema burguês, ou a ?pirâmide? como usa a banda
Metropolixo em sua letra genial chamada ?Nova Organização? :
?(...) o rico acima, só parasita (...)Pela nova organização
o pobre abaixo, sustenta o rico Destrua a pirâmide
obedece os caprichos da burguesia pelo bem comum
sendo esmagado a cada dia Lute pela transformação
Aja, não seja
não seja mais um?
No entanto, todo este nicho cultural ?
anarco-
punk? que teve na
gênese de sua difusão nacional a constituição dos conhecidos
MAPs (núcleos locais ou regionais do ?Movimento
anarco punk?) sofreu um claro declínio após a metade da década de noventa e hoje se apresenta em seu limite terminal no que se refere a produção de
caráter classista. Teria este nicho
involuido ou retrocedido de consciência? Ou simplesmente caído na sina anterior do
divisionismo interna dos culturas proletárias urbanas?
É necessário dizer que apesar de intencionalidade transformadora do meio ?
anarco-
punk? este constituiu ao longo de seu declínio uma capa muito conveniente para encobrir os vícios
autoritaristas de ontem sob um novo conteúdo. Ao que tudo indica ele teria se tornado um meio tão autoritário ou até mais do que aquele que se criticava na sua produção. Como se teria chegado a isso? Por quê? Perguntas que devem ser respondidas.
Haveria já na
génese do ?
anarco-
punk? um grande equívoco em termos da proposta em si. A perspectiva de agremiação de jovens em torno de um corte cultural
punk e de um outro, político, anarquista não foi ou é muito eficiente para mudança social
efetiva, uma temática recorrente em letras e produções culturais como já foi visto.
Outro claro elemento é de que apesar do esforço legítimo de muitos dos primeiros ?
anarco-
punks? e socializar bibliotecas e grupos de estudo o debate do anarquismo se perdeu por completo como eixo de
atuação política em vista de um
mitificante e, assim eu diria, paralisante culturalismo. O foco da luta de classes foi absurdamente perdido em virtude de diversas rodeios, ilusões e doenças da pós-modernidade: ?não existem mais classes?, ?anti-trabalho?, ?primitivismo?, ?
respiratorianismo? etc são alguns exemplos destas balelas que na verdade são sintomas da ideologia burguesa num mundo ocidental que se depara com sua
finitude após o fracasso racionalista e iluminista do pós-guerra e do dito ?socialismo real?.
Vale colocar aqui que quando falo de um ?culturalismo? paralisante me refiro a uma tendência unilateral de analisar a realidade por um prisma cultural, deixando de lado a realidade
económica e outras importantes esferas. Ao que tudo indica esse é um dos elementos da pós-modernidade, tendência
refletida também no mundo intelectual em sintonia com o Banco Mundial e FMI1 para a educação dos países capitalistas dependentes onde a origem de seus problemas sociais não está na exploração imperialista imanente ao capitalismo, mas sim nas raízes culturais das opressões: como indígenas, negros, mulheres, homossexuais etc. Como se a classe não abrangesse estas esferas e a classe não possuísse uma etnia,
género e orientação sexual. De todo modo, este deslocamento puramente
economicista e equivocado na perspectiva de classe tem como efeito acobertar a real exploração dos trabalhadores e do aparelho ideológico que tenta pulverizar não só a identidade de classe como também os trabalhadores os dividindo, seriam eles agora ?indivíduos? buscando
festivamente por sua liberdade.
Feito este esclarecimento fica patente um ideologia burguesa que aprisiona as mentes dos trabalhadores, e dos
punks também por conseguinte... Agora que fique claro o meio
punk é essencialmente cultural, uma cultura proletária. Porém, é por isso mesmo que não pode surgir daí um paradigma transformador para a sociedade, ou uma orientação
revolucionária: este é resultante dos esforço do conjunto da classe trabalhadora em suas lutas concretas e a
associção ao trabalho ideológico de um partido
revolucionário, e não somente dos
punks- um
setor de jovens do
proletariado que gosta de sons ,estéticas,
rolés, textos, arte etc.
É justamente por esta concepção de
punk colocada aqui que retomo a reflexão sobre o dito ?meio
anarcopunk?. Cabe perceber que os antigos
lampejos classistas, e a aproximação
revolucionária em alguns pontos, não poderia sobreviver na redoma purista em que este meio cultural se colocou. Ao se criar uma ?teologia
punk? o ?meio
anarco punk? parece ter cristalizado um mito fundador e falsificando sua história de tal forma que tornou impossível debater criticamente o que seria esta cultura
punk ou de onde haveria surgido. O texto ?30 anos de omissões e mentiras sobre o
punk? é sintomático deste exemplo. Ele teria surgido por conta de um evento denominado ?30 anos de
punk? que reduzia a um
eventismo artístico
filmográfico, logicamente o espaço do evento patrocinado pelo governo Lula e pelo Banco do do Brasil não poderia comportar uma crítica social mais ampla do que unicamente esta da exibição
filmográfica como foi visto no debate.
O mais curioso é que o texto é envolto justamente na intencionalidade de desmistificar e mesmo assim consegue erigir um novo mito:
?
Esporadicamente, verificamos os mais variados grupos e indivíduos articulando eventos referentes a supostos aniversários do movimento
punk(...) gerando um ?
confusionismo? e criando um mito fundador.(...)O papel dos
Pistol$, de todo modo, tem sido
mistificado durante anos, baseado numa inversão de valores e numa falsificação histórica.(...)Contudo, paralelamente à
comercialização e a falta de maturidade política dos ?
punks do
mainstream de 77?, desenvolveu-se uma cena
punk que não esteve na grande
mídia (e nunca fez questão de estar) e talvez por isso tenha ficado tão conhecida. As remotas origens do ?
PEACE PUNK? remetem mo final dos anos 60, quando
Penny Rimbaude Geee Sus, na época envolvidos com o movimento
hippie, mudaram-se para uma fazenda na cidade de
Essex, no interior da Inglaterra, fundando uma casa aberta/comunidade chamada ?
Dial House?. Desde então o espaço torna-se um centro
anarco-pacifista e
atividades culturais, artísticas e políticas. Anos mais tarde, em setenta e sete, unem-se com outros indivíduos com as mesmas necessidades de mudança formando o
CRASS, mais que uma banda, uma comunidade pronta para subverter a ordem.?
Esta perspectiva pode ser colocada em contraste tendo em vista o aspecto unilateral e purista do qual esta ?história? da
gênese do
punk parte. Podo em contraste com o próprio romance o ?O último dos
hippies? revela-se um equívoco na elaboração do texto quanto a motivação da cultura
punk nos membros da futura banda
crass:
?Esperávamos que através de uma demonstração prática de paz e amor, poderíamos pintar o mundo cinzento em cores novas; é estranho que ele tenha levado um homem chamado
Hope [Esperança], o único
hippy ?verdadeiro? com quem nós
diretamente nos envolvemos
criativamente, para mostrar para a gente que aquela particular forma de esperança era um sonho. (...)
Um ano depois da morte de
Wally, os
Pistols lançaram ?Anarquia no Reino Unido?, talvez eles na verdade não estivessem falando sério, mas para nós era um grito de guerra. Quando
Rotten proclamou que não havia ?nenhum futuro?, nós vimos isto como um desafio à nossa criatividade ? sabíamos que havia um futuro se
estivéssemos preparados para batalhar para tanto.
É o nosso mundo, é nosso e foi roubado de nós. Nós partimos atrás para pedi-lo de volta, somente por volta desta época eles não nos chamaram de ?
hippies?, eles nos chamaram de ?
punks?.?
[O último dos
hippies: um
românce histérico,
Penny Rimbaud, Londres,
Jan/Mar., 1982.]
Tomando esta expressão de um membros fundadores da banda, que inclusive citado no texto ?
anarco?
punk acima, nota-se o equívoco ao atribuir como
gênese a experiência de
Rimbaud e outros que viriam a formar a banda
Crass como algo que seria ?
punk? desde fins da década de 60. O Trecho é claro e mostra inclusive que a banda
Sex Pistols influenciou de certo modo, mesmo que a contra ponto, a existência do grupo
Crass revelando assim a verdadeira falsificação histórica que o texto ?
anarco?
punk vem a mascarar.
O que se observa é um conversão cultural do
hippismo de 60 para o
punk da década de 70:
fenômeno que não é instantâneo nem previamente ?
punk? em si, na história os
fenômenos são dinâmicos e nunca inatos. Este grupo ou membros não inventaram o
fenômeno cultural ?
punk?. Foram mais um dos agentes que se encontraram na sua
gênese. Acreditar que o
punk teria surgido da cabeça de pessoas puras e
bemintencionadas seria o mais puro idealismo anti-histórico.
Apesar do texto ter o mérito de resgatar este elemento pouco conhecido, como ele mesmo afirma, ele se cala diante de algumas contradições e cristaliza o mito fundador. Assim o meio ?
anarco?
punk teria um origem pura isenta de contradições na figura de
punks que se separam do mundo real e repleto de contradições, buscando a solução se escondendo na sua fazenda comunitária. Esta descrição tem um elemento essencialmente reformista e
escapista por não se deparar com a realidade dada nos termos de vida de um proletário comum, que tem que se deparar com o transporte urbano ,com o trabalho fabril, os sindicatos e em fim a vida numa sociedade de massas. Para os que desconhecem apesar de se afirmar ?anarquista? a banda
crass possui uma música que
secundariza a questão da classe, relegando à questão central a moral individual:
?
Punk's
the people's
music and I
don't
care where they'
re fromblack or white,
punk or skin,
there ain't no
right or wrongwe'
re all just human beings, some
of us rotten, some
of us goodyou can stuff your false divisions cos together I
know we couldbeat the system,
beat it's
ruleain't
got no
class, I
ain't a
foolbeat the system,
beat it's
lawain't
got religion cos I
know there's more
beat the system,
beat its game
ain't
got no
colour we'
re all the samepeople,
people,
not colour,
class,
or creeddon't
destroy the people,
destroy their power and their greed.?
O que nos leva ao próximo ponto que rende muitas
polêmicas na
atualidade que é o da cultural
OI!, ou música
OI! ,muito perseguida e difamada. Ao cristalizar como referência o
vivencialismo purista do grupo
Crass o meio ?
anarco?
punk parece ter definido este como um mito mágico de origem que se mostra quase
teologal pela assimilação acrítica e dogmática dos seus membros. A implicação é justamente a aniquilação da diferença, do debate democrático e perseguição de toda interpretação de outros nichos culturais que se reivindicam
punks e se vinculam a eles. No caso me refiro ao
OI! que tem demonstrado crescer no Brasil por seus apreciadores.
Se for possível incluir uma tentativa de visualizar a
gênese da cultura
PUNK destacaria a conversão do
hippismo de 60 com
Crass, o meio ?
mainstream? musical que de fato queria ser assimilado pelo mercado fonográfico, tal como a conhecida banda
Ramones, e também incluiria o
OI!. Acredito que este último traduz melhor a essência proletária da cultura
punk que fez valer o termo ?
street punk? para os seus membros por seu
caráter rueiro e contava também com a
interação de jovens
Skinheads, que para além de toda a confusão nada teriam de fascistas de maneira inata.2
Esta constatação reafirma o que já foi dito mais acima sobre um retrocesso de consciência
classista no meio ?
anarco?
punk do Brasil e o texto no qual afirma que ?a cultura
skinhead não é compatível com o anarquismo? é também sintomático. Em meio as diversas intervenções
desqualificadas e
manipulativas destaca-se o ponto 4 onde afirma esta incompatibilidade por:
?4- Exaltação do
proletariado enquanto classe permanente:
A perspectiva
skinhead do trabalho é a da aceitação da alienação. O ?orgulho? de ser proletário é visto como um fim em si mesmo ,e não contém uma propostas de abolição de classes, se não
mantê-las.
O anarquismo é uma ideologia que nasceu nas classes desfavorecidas
e por elas sempre viverá, até que deixe de existir. Essa é a diferença entre o anarquismo e o
skinhead: enquanto um propõe a abolição das classes, o outro exalta uma classe específica (o
proletariado) sem perspectiva de destruí-la.
Todo o
skinhead é fundamentado na questão do
proletariado, e essa obsessão inclui também os vícios e questões culturais nocivas (...)?
[texto da
Orgap sobre a incompatibilidade da cultura
skinhead com o anarquismo]
É evidente que na verdade o?meio
anarcopunk? não possui a mínima clareza quanto ao anarquismo e nem mesmo a mínima formação política. Achar que jovens proletários comuns vão ter por si mesmos anseios de abolir as classes é puro idealismo barato, assim como condená-los por suas práticas sociais ?viciosas? como foi dito. É tudo uma questão de metodologia materialista: os jovens
skinheads da época tinham tais práticas por que queriam e eram ?maus? ou tudo isso é um efeito estrutural de uma realidade maior do que eles mesmo, que os aliena e explora? A diferença entre a segunda e a primeira é o que distingue uma análise puramente moral da realidade de outra materialista.
Fica claro que a ?Orgap? não entende também o papel social do proletariado no projeto socialista (isso porque no momento nem estou considerando os setores do ?meio anarco punk que se dizem ?anti-trabalho? ou primitivistas) . Esta classe surge historicamente como revolucionária da fratura de uma frente unida contra os resquícios do antigo regime no século XIX onde a burguesia trai o proletariado querendo realizar revoluções unicamente políticas. Tendo claro a escravidão econômica resultante o proletariado começa a exercer uma prática política a parte ,separada, da burguesia para se emancipar esta é a gênese do socialismo revolucionário que tem no proletariado o agente emancipador universal. Não é errôneo daí se exaltar o proletariado e o aspecto de auto-estima constituído na cultura skinhead. Eles não são incompatíveis, pelo contrário são benéficos.
A este ponto vale lembrar : e quanto a letra ?Incentivo aos operários? da banda Execradores que possui uma clara exaltação do proletariado? Essa mudança de discurso revela também um mudança, no caso um retrocesso, que tem origem na prática e também de consciência. O abandono da classe trabalhadora como referência e apagamento final dos antigos lampejos revolucionários revelam estas constatações. Um exemplo para tomar a própria banda Execradores é o título de um dos materiais posteriores: ?Revolucionar o cotidiano. Cotidianizar a revolução!?. Quer dizer, a revolução passa a dar margem a uma compreensão confusa onde a revolução social é desnecessária pois já está sendo feita ?cotidianamente? nas práticas individuais de cada um. Este é um sintoma que mostra a desvinculação completa com o anarquismo por ser claramente individualista e escapista: a revolução é a guerra e um fenômeno de massas.
Por tudo que foi levantado se conclui que o dito meio ?anarco?punk primeiramente nada tem a ver com a ideologia e teoria revolucionária anarquista muito provavelmente um fruto amargo do culturalismo equivocado do hippismo e do maio de 68 que operaram um completo revisionismo, não sendo o único, do anarquismo que teve em sua sistematização mais orgânica no bakuninismo. Em segundo lugar, se observa um retrocesso de consciência classista e uma proposta confusa que estabelece cortes rígidos para sua efetivação, um cultural e outro ideológico ?anarquista?, o que impede ,apesar da ilusão de alguns, que esta seja um força revolucionária que tenha qualquer interferência concreta positiva na luta de classes. Em terceiro lugar, estabelece um mito fundador purista e isento de contradições no vivencialismo hippista do grupo Crass materializando um ?Teologia punk? que inviabiliza a compreensão crítica de sua histórica e o debate democrático perceptível em posturas sectárias. Este sectarismo não para aí e pode ser acompanhado nas diversas denúncias de perseguição chegando até mesmo a agressão física protagonizada por ?anarco?punks contra apreciadores do OI! no Brasil.
Assim o ?anarco?punk demostra ser um retrocesso e um atraso para a consciência dos trabalhadores tendo definitivamente abraçado o ganguismo. Seu destino nestes termos e uma possível extinção na medida que não atende mais aos que procuram um espaço que tenha identificação de classe. Mas nunca se sabe, as gangues vem e vão e seu fim é a morte física de seus integrantes.
Reafirmo aqui o objetivo o texto colocado no seu título que dizer os/as camaradas punks proletários: PUNKS VENHAM LUTAR!, abandonem a luta fracionista das gangues e abracem a luta emancipadora da nossa classe. Façamos de nosso meio um lugar de entendimento entre iguais, debate democrático, politização e diversão. O que conta é nossa condição como proletários no fim das contas o resto é uma questão de afinidade cultural.
[texto: Punk Navalha]